domingo, 18 de abril de 2010

Blitz! DOCUMENTO!


O assunto "sair do armário" tem se tornado cada vez mais comum na mídia. Muitos astros de Hollywood das décadas de 50, 60 e 70 são apontados como tendo ocultado de suas biografias oficiais o envolvimento com pessoas do mesmo sexo. Eles porém não estão aqui para dizer se eram ou não eram. Marlon Brando, Clark Gable e Cary Grant são alguns dos galãs mais famosos nas listas.


Livros como A vida sexual dos ídolos de Hollywood de Nigel Cawthorne e Bastidores de Hollywood do jornalista americano William J. Mann trazem a tona as especulações e exploram possíveis provas.

Na biografia não-oficial de Paul Newman, lançada depois de sua morte, Darwin Potter afirma que o ator teria se apaixonado por Tom Cruise (esse volta e meia é incluso nas listas do "será que ele é?") durante as filmagens de A cor do dinheiro.

Na juventude, Newman ainda teria tido um caso com o também galã hollywoodiano James Dean. E é atribuída a Marlon Brando a afirmação: "ele era tão bissexual quanto eu. Mas enquanto eu era sempre pego de caças arriadas, ele dava um jeito de fazer tudo na surdina."

Agora, no entanto, as celebridades são acusadas por alguns de tentar beneficiar-se ao revelar sua homossexualidade perante o público. Há também os que as utilizam como exemplo para as novas gerações, vendendo o "coming out" como forma de libertação. Mas o que significa identificar-se como gay ou "bi" em nossa sociedade?

Os assumidos




Após negativas públicas e muita especulação, Ricky Martin assumiu aos 38 anos, afirmando: "Tenho orgulho de dizer que eu sou um homossexual de sorte. Eu sou muito abençoado por ser quem eu sou." A declaração completa do cantor pode ser lida aqui, numa versão em português.


Anna Paquin, que ganhou o Oscar ainda criança pelo filme O Piano, mais conhecida pelo público brasileiro por seu papel em X-Men e no seriado True Blood, aparece no vídeo a seguir declarando sua bissexualidade. A atitude da atriz neo-zelandesa justifica-se pela luta pelos direitos iguais.

Sir Elton John, que também participa do vídeo da Fundação True Colours, e saiu do armário nos anos 80s, aparece dizendo: "Imagine andar pela rua imaginando se esse será o dia em que vão te bater ou matar simplesmente por você ser quem é".



O site ArmarioX, quando foi lançado em 2003, afirmava ter como objetivo ensinar o público gay a "sair do armário". Fabrício Viana, responsável pelo portal, é também o autor do livro "O armário".

Um dos estudiosos brasileiros mais reconhecidos sobre o "mundo gay" que bom que eles têm um só pra eles, não? é o ensaísta João Silvério Trevisan de Devassos no Paraíso, publicado originalmente em 1986.

Outro destaque é Luiz Mott, doutor em Antropologia, estudou na USP e na Sorbonne, lecionou na Unicamp, é professor na Universidade Federal da Bahia e autor de uma dezena de livros. E ainda foi o primeiro gay assumido a ser condecorado como Comendador da Ordem do Rio Branco.


Na televisão, o primeiro a abordar com mais profundidade o tema e com personagens centrais encarnando os dramas e os prazeres da homossexualidade é o seriado Queer as Folk - realizado originalmente no Reino Unido e depois produzido pelo canal Showtime - as gravações aconteciam no Canadá mas o enredo se passava na cidade de Pittsburgh nos EUA.

Nesta versão, que completou 5 temporadas, o personagem Justin disse certa vez que nenhum ator não gay aceita fazer papel de gay. Porém, os próprios atores da série, que no Brasil ganhou o título Os assumidos, não confirmaram a veracidade disso.


Robert Gant é um dos atores de Queer as Folk que tornou pública sua homossexualidade. Já Hal Sparks, à direita, que contracenou cenas de muito romance e intimidade com o louro disse que foi tudo profissional ou como diria o Vídeo Show um sexo técnico.


De acordo com o site especializado em "cultura LGBT", Mix Brasil, o inglês Colin Firth, que recebeu mais de 6 prêmios por sua atuação no filme de Tom Ford A Single Man (Direito de Amar), onde interpreta um homem que perde o companheiro num acidente de carro, afirmou que atores homossexuais não devem se assumir, sob pena de perderem bons papéis. "Acho que devemos ser livres para interpretarmos qualquer papel – mesmo assim ainda acho que existam barreiras invisíveis que não podem ser cruzadas."



Em 2008, a supermodelo Isabelli Fontana (foto acima) disse que não gostaria de ter um filho gay. O comentário gerou grande polêmica após a exibição da entrevista no programa da Hebe.

Em defesa na Folha Online ela explicou: "O que falei, é o que penso. Amo os gays. Tenho milhões de amigos gays. São as pessoas mais divertidas que conheço. Disse que não gostaria de ter um filho gay porque sei como eles sofrem com o preconceito. E nenhuma mãe gosta de ver seu filho sofrer." É inevitável lembrar de frases comuns como "tenho muitos amigos negros" ou "tenho negros na família".

Um ponto positivo para ela é a maneira como expôs-se mesmo diante de comentários completamente contrários dos outros convidados, e do meio onde ela trabalha, como a própria chamou atenção. Venhamos e convenhamos mas ela podia ter simplesmente ido de acordo com o que outros diziam. A apresentadora Hebe, por sua vez, balançava a cabeça em sinal de concordância e no final contemporizou "é uma questão de opinião".

Lembro de uma professora que dizia "sua sinceridade não me interessa". É inocência ou ignorância acreditar que podemos dizer tudo que pensamos. Para análise mais profunda do assunto, recomendo A ordem do discurso de Michel Foucault, de quem iremos lembrar mais a frente.

O vídeo pode ser assistido, clicando aqui. Mas o que me chamou mais a atenção é o comentário de um dos visitantes que o assistiram "creio que nenhum pai deseja isso pro seu filho. Sou gay e entendo a opinião dos demais. Hoje em dia se eu pudesse ter um filho também ia preferir que ele não fosse gay para não sofrer o que eu sofri!"



Questionado pelo Jornal O DIA sobre a declaração de Ricky Martin, Miguel Falabella respondeu: "Achei maravilhoso. Mas acho tão fora de moda esse negócio de questionar a sexualidade dos outros. O mundo está acabando... Não tenho a menor intenção de saber a opção sexual das pessoas, só das que quero comer. Se ele teve esse tipo de necessidade é um fato. Os preconceitos sempre vão existir, porque o ser humano é mesmo intolerante!".

Quanto a se faria o mesmo, o ator e diretor disse: "Não faria isso, porque o Brasil é muito despreparado. Somos aborígenes, ainda mais porque esse tipo de imprensa é de quinta categoria. E se você assume, passa a ser gay e deixa de ser tudo o que você realmente é."

Perguntas que surgem:


Será que é tanta vantagem assumir que é gay? Lembremos que muitas vezes as mesmas "honestas" celebridades são acusadas de quererem simplesmente chamar atenção, fazer auto-propaganda, ao tornarem público sua homossexualidade ou bissexualidade.

Diante desse questionamento, uma resposta pronta e muito repetida é "puxa, mas é tão triste ter de ficar escondendo". Mas sejamos sinceros, por que o mundo precisa saber? Por que tanto interesse por isso? Serão que não estão querendo saber quem você é para melhor identificá-lo?

No século XIX inventaram que ser negro constatava inferioridade biológica. Os que fugiam das senzalas eram facilmente identificados,já que tratava-se de uma característica aparente, e levados de volta a escravidão, em geral com direito a muito a muita tortura. Eram, já que inferiores, apenas mercadorias. Também disseram que homossexualidade é doença mas... se a pessoa não corresponder aos paradigmas do que é ser gay, como saber que você não está sendo "enganado"?

Dizem também que existe um mercado promissor chamado "pink money". Por que não explorá-lo? Lembra da "estratégia do oceano azul"? Mas o que ouvimos hoje em marketing que é mais importante que tudo na hora de planejar uma campanha?

Acertou quem disse saber quem é seu público-alvo, quais sãos seus hábitos de consumo, referências, aspirações. E se estamos falando de gays, precisamos saber primeiro quem são os gays, é ou não é?

Prestemos atenção a matéria da revista ISTOÉ Dinheiro que tem como subtítulo: "Empresas descobrem a força desse milionário segmento, formado por um consumidor que gasta mais que o heterossexual e é fiel às suas marcas".

Segundo o fundador do Bureau de Negócios GLS, Franco Reinaudo, sócio da operadora Álibi Turismo, "as empresas estão se preparando agora. É uma fase de transição entre um mercado que era tabu para uma grande oportunidade de negócio."

Alguém já lhe contou que gosta de pessoas do sexo oposto? Não somos todos iguais? Então por que o contrário tem ganhando tanta atenção na mídia? Será que isto de alguma forma proporcionará aos homossexuais e bissexuais serem mais felizes?

Se pensarmos no caso dos atores, com ênfase aos hollywoodianos, que vivem em um mundo onde a sexualidade é aceitável entre eles, podemos supor que suas vidas não sejam obrigatoriamente opressoras, enquanto circulam no apertado meio artístico.

Mas se formos para o grande público vemos, como no comentário do ator Colin Firth, casado há anos com uma italiana, e que já interpretou mais de um personagem gay no cinema (vide Mamma Mia!), que ser assumido provoca uma série de problemas que podem travar a própria expressão artística daquele que se diz homossexual, como não conquistar o papel desejado ou ficar fadado aos mesmos tipos.

Existem muitos gays, inclusive os assumidos que guardam neles mesmo a opressão e a manifestam em uma maneira de viver a vida destrutivamente, sem laços, sem compromissos. Voltando para comparação anterior, isso não os faz muito diferentes de pessoas de pele negra que conservam o preconceito contra outros negros, inclusive contra ele mesmo. Não acredito na classificação de raças e disso podemos tratar em outro tópico.

No blog, diga-se de passagem interessantíssimo, CyberCultura e Democracia Online, o autor diz: "a repressão da homossexualidade é interiorizada e aceita pela maior parte das suas vítimas: os homossexuais que interiorizam o opressor são impedidos de viver saudavelmente a sua homossexualidade."

Viver a homossexualidade não é sinônimo de sair do armário. Assim como ninguém precisa dizer que é heterossexual para viver sua heterossexualidade. Também não pode ser confundido com a experiência em relações sexuais com pessoas do mesmo gênero.

Trata-se de algo mais profundo, já que estamos falando de livrar-se de uma repressão interiorizada. Aprendemos desde pequenos, mais ou menos intensificado, a ver o afeto e a atração por pessoas do mesmo sexo como algo desnatural, errado, nojento, mal.

Há os que sujeitam-se a viver uma vida dupla, conhecendo no outro apenas o prazer sexual, sem afeto já que "impedido" ou "travado" de relacionar-se romanticamente. Daí ou chegam a casamentos de fachada ou tornam-se os solteirões solitários, carregados do estigma de pena de amigos e parentes que lamentam a sua "escolha".

Alguns tornam-se caricaturas. Crendo que ser gay exige um comportanto "efeminado" do homem ou "masculinizado" da mulher e por vezes utilizando-se desses trejeitos em revide a agressão que recebem da sociedade.

Quantos materias como filmes e programas de tv não reduzem o homossexual a alguém sexualizado, escravizado, mal-amado, fadado a solidão e sem apoio quando chegar a velhice (se a tiver)?

Mais importante do que realizar-se sexualmente ou declarar-se ao mundo está em assumir-se para si. Aceitar-se como ser diferente e único. E não desistir de si mesmo em razão da imposição dos outros.

Em seu blog, J. Francisco Saraiva de Sousa, chama a atenção para o filósofo francês Michel Foucault. Diante da obrigação de resistir "à omnipresença da opressão quotidiana e à capilaridade das tecnologias do poder disciplinar" ele teve de reagir, tornar-se forte. Como ele fez isso?

Foucault, que era homossexual assumido, "realizou esta prática de si recorrendo à mediação do trabalho histórico: sondou o passado da civilização ocidental para questionar a evidência dos critérios mediante os quais o poder disciplinar produziu formas de exclusão sobre as quais repousa a nossa sociedade."

A escolha de revelar-se ao mundo é opcional. Sua sexualidade é que não é opção. Mas antes do mundo, revele-se a si, se goste, seja forte e parte disso virá justamente de conhecer mais sobre os outros fofoca não funciona.


"Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo." - Michel Foucault


That´s it!


Outras fontes que você pode pesquisar:

Michel Foucault: Filosofia e Homossexualidade

A vida Sexual dos Ídolos de Hollywood

Os gays de Hollywood

O ator mais bonito do mundo


Lista de 10 filmes com atores e atrizes gays

Atriz Anna Paquin revela publicamente sua bissexualidade

Famosos que saíram do armário

Ex-agente faz lista dos gays famosos de hollywood
Toy Story pode ter primeiro personagem gay da Disney


P.S. Todos os grifos nas citações são nossos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts with Thumbnails