domingo, 30 de maio de 2010

Lula, preocupações de mãe e Crepúsculo



Em 02 de maio de 2010, prometi escrever sobre um fato que ganhou notoriedade na grande mídia e pela internet afora: Lula está entre os líderes mais influente do mundo pela Time em 2010. Embora não o vejamos na capa da revista, como você pode conferir acima.

Pois bem, quase um mês depois e estou aqui de volta. Não posso deixar de notar que o político estadunidense Bill Clinton, apesar do escândalo há 10 anos com Monica Lewinsky, ficou em primeiro lugar como herói, segundo explicam por conta de seu trabalho no Haiti, aparecendo na capa junto com Lady Gaga, a artista mais influente, e em ano de Copa do Mundo na África o jogador de futebol marfiense Didier Drogba.

Verdade também que o nome de Lula tampouco chega a aparecer na capa. O que enfraquece a acusação de alguns de que "os americanos estavam muito preocupados em nos agradar".

No entanto, Rosa, uma leitora do blog que citarei logo à frente, alertou-nos com um comentário bombástico às 6:45 de 29 de abril de 2010: "pensem bem no que é que tá por traz de tanta honrraria a Lula… pensem… perguntem-se porque? o tal 1º mundo anda engraxando o pêlo do vendedor de banha da cobra de Garanhuns? É FACIL GENTE!!!!! OS HOMI TÃO DE OIO NAS MATERIAS PRIMAS DO BRASIL!!!(...) (eles) se aproveitam do Cara e do nosso nascionalismo tupiniqum…".

Em defesa da senhora Rosa, explico que ela escreve assim, provavelmente como ironia ao que pensa ser a língua de todos os "nacionalistas tupiniquins", o que aparentemente deve significar sinônimo de "eleitores do Lula". Interessante ainda em seu ponto de vista é que ela diz que a história se repete há 500 anos, porém sabemos que o Brasil nunca foi governado por gente como Lula mas de gente bem mais parecida com o gabaritado José Serra por 502 anos!



Engraçado é que o nacionalismo made in USA não os impede de fazer boas piadas consigo mesmos nem com seus ídolos, mas também não os faz perder o orgulho do que é deles


O que havia mesmo me indignado e movido a escrever é que quando busquei informações em sites brasileiros sobre a indicação de Lula, por ambos os lados sim, tanto manifestações da esquerda como da direita, de modo a elaborar de maneira mais lúcida uma análise da notícia, os resultados eram comprometedores.

Hoje, retornando ao Google e as palavras chaves "Lula+Time" e seus derivados o quadro parece muito pouco diferente.

O que encontrei? A maioria dizia razoavelmente a mesma coisa e praticamente não havia nenhuma análise, nem de blogueiros, nem de leitores, embora estejamos vivendo a época da "democracia da informação" e outros tantos nomes que dão a esta era que supostamente marca a vitória de poder dizer o que pensamos e compartilhar rapidamente com um grande número de pessoas; assim, o que me pareceu mais "reflexivo" e extremamente calculado foi o que li no blog escrito por Reinaldo Azevedo, relacionado a Veja.

O que dizem lá, meu caro Watson?

Quando Michael Moore se junta a Lula, não é estranho que a primeira vítima seja a verdade. Quanto à mentira sobre ser o petista “o” mais influente da Time, bem, essa já conta com a ajuda do jornalismo mesmo.


Desde quando a mídia apóia e ainda por cima com unanimidade ao presidente Lula? Lembra de Muito além do Cidadão Kane? Se fosse estratégia, como sugere o jornalista, dar uma notícia falsa seria na verdade um tiro no pé, considerando que estamos num momento em que facilmente podemos checar a informação e até saber antes de a televisão nos contar.

Seria mesmo estratégia? Só se for contra Lula.

Não sei se o senhor Reinaldo Azevedo não prestou atenção, mas em sua vontade "jornalística" de nos esclarecer que Lula não era o mais influente, ele esqueceu de dizer que ele não era o campeão de votos. Você pode conferir a lista completa publicada pela revista Time, clicando aqui.

Até o momento o artigo conta com 100 comentários, mas todos dizem essencialmente a mesma coisa por que será? e alguns arriscam a declarar-se orgulhosamente Serristas. Chegam até a afirmar mentem descaradamente que Lula teria acabado com o país. Leia por exemplo o que diz uma antenada leitora chamada Miriam:

Caro Reinaldo, queria que o Michael Moore passasse uns 6 meses no Brasil, sem mordomias de turista ou cineasta.
Tenho até uma sugestão de roteiro: Maranhão, Pará, Rio Branco, Acre, Bahia, Paraíba… até o norte de Minas Gerais, conhecendo um pouco deste imenso Brasil, usando nossas estradas federais, conhecendo a população indígena, ribeirinha… Esse cidadão teria oportunidade de conferir como o cara mudou o mundo PARA PIOR!
Poderia dar uma passada em Salvador, e ver como algumas famílias e suas crianças se alimentam dos restos de comidas em lixos de supermercados.



Aí eu pergunto: por onde passeava até 2002 esta digníssima senhora que não sabe a história deste país, que não sabe as condições existentes desde a colonização e principalmente que nada se faz tão rápido num território imenso e cheio de desigualdades centenárias? Bem, os políticos que provavelmente ela deve ter eleito até a chegada de Lula a Presidência, com certeza, acabaram com tudo o que havia de ruim no Brasil e ela agora vê Lula mudar "o mundo(?) PARA PIOR".

Lembremos: Fernando Henrique Cardoso também ficou oito anos no poder e se podemos dizer do Real, que já era anterior a ele, também não esqueçamos das privatizações de grande favorecimento aos empresários e a baixa qualidade com que ainda somos servidos hoje pelos mesmos. Sem mencionar o prestígio que gozou internacionalmente, apesar de intelectual, nada comparável ao do "ignorante", para não usar um termo tão xulo quanto aos dedicados pelos direitopatas.

Falam ainda como se Lula é que fosse responsável pela exploração dos grandes empresários aos nosso país, mas desde quando todo empresário ou bilionário é corrupto? E mais, desde quando o governo pré-Lula não trabalhou em prol prioritariamente dos empresários, num jogo em que ganhar só valia para eles e perder, dentro de "nossa" lógica, cabia a eu e você?

Se Lula abriu os olhos dos investidores estrangeiros para o Brasil não foi nos estrangulando como nos legou FHC e logo pretende José Serra se o deixarmos, mas nos viabilizando além do consumo, o acesso à educação, com destaque para o Prouni que levou muita mãezinha que pagava a faculdade pro filhão que não passava na pública ao ódio; e daí uma possível explicação para o "eleitorado feminino" estar "receoso" diante da candidata Dilma.

Aos interessados e indecisos, recomendo analisar a matéria Por que elas resistem a Dilma publica esta semana na Época, mas não se esqueça de quem possivelmente são mães parte são daqueles "coitadinhos" que perdem espaço no mercado de trabalho para os pobres que não deveriam ter tido condições mínimas de concorrer com os rebentos da classe média alta, alguns aqueles mesmos filhinhos que de vez em quando voltam a aparecer no noticiário espancando gente pela rua e dirigindo alcoolizados e cheirados depois de usufruir os prazeres junto aos "favelados" ao som do batidão as tais mulheres "naturalmente conservadoras" que priorizam a Educação à Ideologia.

Note que dizem como se votar em Dilma demonstrasse um leitor não preocupado com as coisas que influenciam diretamente a vida das pessoas. A economia, lembrando que o Brasil passou pela crise mundial muito bem obrigado alô, alô Grécia, EUA, Itália, Inglaterra e cresceu fortemente com Lula e todas as outras conquistas de visibilidade internacional, somada a força política e os avanços sim também na área da educação Viva ao Prouni! e pergunte aos professores das faculdades privadas quem sãos seus destaques em sala de aula parecem não ter a menor importância e as garantias de continuidade com Dilma na presidência não fazem parte do ponto-chave em sua candidatura. Será?

Porém a acusação mais grave talvez seja encontrada no questionamento de um leitor que se identifica como Wittgenstein: "Eu gostaria de saber qual a influência Lula exerce no mundo para estar nessa lista" e que ainda chega a afirmar: "Todas as ações internacionais só deram com os burros nágua." Quando disse isso, em 29 de abril às 5:39 da tarde, ele provavelmente não sabia o que estava por vir. Sim, mais recentemente Lula teve sucesso em sua influência em questões de grande relevância com o Irã. Com as quais mesmo os Estados Unidos não obtiveram êxito, apesar de toda influência...

Sobre o sucesso de Lula no Irã, recomendo para mais detalhes o Estadão ou o blog pessoal do jornalista Paulo Henrique Amorim.

Se procura o texto de Michael Moore sobre Lula, a tradução para o português pode ser encontrada no blog do Planalto, no entanto, se preferir outra fonte pode também perguntar ao oráculo ou ler no original em inglês.

Mas se você não confia no Tio Sam e acha que tudo o que os sobrinhos dele dizem só pode ser marmelada o que não deixa de ser uma desconfiança saudável desde que não caiamos no exagero veja o que dizem os "argentinos" dos estadunidenses pois é, essa palhaçada de rivalidades rocambolescas também é cultivada entre o pessoal do "primeiro mundo" no Le Monde, um jornal ultra conceituado como um veículo de comunicação verdadeiramente independente o que significa que eles não precisam vender mais, nem concorrer e fazer agrados no filão da publicidade e elevadamente crítico em suas colocações:

Le Brésil de Lula sur tous les fronts

Le Brésil tente de contrôler l'envolée de sa croissance



Mas se você não dá a mínima para o que dizem lá fora e acha que só quem viveu a dor é quem pode dizer alguma coisa, confira o resultado da pesquisa pela Datafolha realizada em 20 e 21 de maio:

Aprovação a Lula volta ao nível recorde de 76%



Apesar de não ser adepto ao esquema maniqueísta, não posso deixar de dizer que achei interessante o vídeo do Galo Frito, um grupo de comediantes que produziu em 2009 uma sátira esdrúxula do filme Crepúsculo usando como personagens Lula, Dilma e Serra. O resultado? Pelos comentários parece que o pessoal achou engraçado, mas somente em breve saberemos o fim desta história, numa urna mais perto de você.

Enquanto isso, assista ao trailer. Mas não se esqueça que você é bem mais que um mero espectador.

domingo, 23 de maio de 2010

De volta para o futuro

Depois de assistir mais uma vez ao O Grande Ditador - "coincidentemente" havia reassistido esta semana também ao Bastardos Inglórios - sobre os quais pretendo escrever depois, acabei de ver uma entrevista com Lala Deheinzelin sobre

o futuro

. Vejamos:








video platform
video management
video solutions
video player



Registramos algumas reações possíveis. Vejamos:









domingo, 16 de maio de 2010

Rita Lee disse também



Não temos como viver como Adão e Eva e nem precisamos. Precisamos mesmo é agradecer todos os dias pelas pessoas que pensaram, disseram e fizeram as coisas que teríamos de pensar, dizer, fazer. É o que li recentemente quanto a uma das conclusões as quais chegou o cientista Albert Einstein. Sem a contribuição dos estudiosos de antes, talvez não houvesse hoje a Teoria da Relatividade.

Há que se considerar ainda a Teoria dos Campos Mórficos, da qual já citei aqui no blog, e que afirma haver algo muito mais poderoso na transmissão de conhecimento do que as formas de registro e meios de comunicação que conhecemos. Em termos simples, é mais fácil, por exemplo, resolver na segunda-feira as palavras cruzadas publicadas no domingo. Porque? Outros já chegaram as respostas e você poderá chegar a elas através de uma espécie de sintonia, sem fios, sem ondas.

A primeira vez que tomei conhecimento sobre essa teoria, proposta pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, foi no blog da Psicopedagoga Sandra Prado, a quem aproveito para expressar minha gratidão. Mas, pelo título deste post, você deve estar se perguntando cadê a Rita Lee. Confesso, na verdade, que só no momento em que a página de nova postagem abria que percebi a relação dela com o que eu que me moveu a abrir a página do Blogger.

Acontece que li, nesta semana o texto Sem medo de ser feliz na revista Tempo, edição nº003, que tem como capa basicamente o perfil de Lars Grael e o texto "Coragem! Você está só" ousado por sinal, afinal a maioria da revistas nos presenteiam com capas lotadas de títulos de matérias na tentativa de nos agarrar nem que seja por uma notinha com conteúdo facilmente encontrável na internet. Carla Rodrigues traz-nos uma pequena, porém forte lista de mulheres admiráveis, entre elas estão Patrícia Galvão, Alice Walker, Frida Kahlo, Georgia O'Keefe e Wangari Mathai.

Infelizmente, sobre a última, pacifista, ecologista e prêmio Nobel da Paz, há um erro na edição que acaba confundindo quem não estiver atento, ou não tiver já lido a parte dedicada a artista plástica Georgia O´Keefe. Imagino o editor desesperado depois da publicação onde lemos "Ela nasceu em novembro de 1887 numa fazenda no estado em 1940, mais de um século depois de as mulheres europeias terem conquistado o direito de estudar. Para as mulheres do Quênia (...)" aviso que o correto é "Ela nasceu em 1940" e daí por diante.

Mas tentemos deixar a prolixidade de lado e vamos ao que interessa. Se nos blogs a temporalidade é questionável já que você pode reeditar infinitas vezes o que publicou, a objetividade pode ser desafiada, como na literatura. José Saramago é um grandes exemplos de prolixidade. Outro que destaco é A hora da estrela, um dos meus livros prediletos, escrito por Clarice Lispector que declarou em 1977 o orgulho em ser amadora, "Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então com outro, em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter a minha liberdade". Se você leu até aqui, talvez me entenda ou decida de vez parar até



Li a autobiografia de Patrícia Galvão Paixão Pagú há uns quatro anos. Quando tentei comprar o livro, ele já havia sumido e até hoje não o possuo para uma consulta mais profunda. Então, usarei como referência o que foi publicado na revista e que me fez perceber, mais uma vez, que sempre temos algo a aprender, "só sei que nada sei", lembra? mas também sempre temos algo a lembrar.

Ao escrever o último post sobre o mito do amor materno, reconheço que faltei com a memória e não citei Pagú. Pois dentre tantas reflexões polêmicas sobre sua vida - incluindo o desencanto com o Partido Comunista - escritas quando ela ainda tinha por volta de 30 anos, encontramos o questionamento a experiência com a maternidade, "que para ela não foi exatamente marcada pela realização plena e feliz".

Pagú, lembro, no entanto é reconhecida com bastante orgulho na introdução do livro pelo filho caçula, Geraldo Galvão Ferraz, que buscou compartilhar as memórias da mãe, publicadas em 2005 pela Editora Agir.

De certa forma, mesmo num relato que pare ela funcionou como um depoimento diante de anos de tortura e espancamento por questões políticas, Pagú se faz admirável também por expor questionamentos sobre o mito do amor materno, quarenta anos antes do estudos da filósofa francesa Elizabeth Badinter que conclui que o "amor de mãe" não é algo natural (para saber mais clique aqui).


Outra figura que merece ser lembrada é Leila Diniz. Se Demi Moore foi a primeira a aparecer bela e sexy e grávida na capa de uma revista, a atriz brasileira, ainda em 1971, vinte anos antes da estadunidense, abalou a sociedade carioca com o misto "cheia de graça" associação feita a mulher durante a gestação, seguindo a simbologia associada a Maria mãe de Jesus porém "sensual", ao aparecer na praia vestindo biquini aos 8 meses de gestação, em plena ditadura militar.

Sendo uma atriz famosa e uma personalidade pública bastante polêmica, pode-se pensar que a elaboração que Leila fez de sua própria vida atingiu não apenas as pessoas mais próximas, mas também contribuiu para legitimar idéias e práticas consideradas revolucionárias para a época em que viveu. Ao escolher ter um filho fora do casamento, rompeu com o estigma da mãe solteira. Sua fotografia grávida, de biquíni, foi estampada em inúmeros jornais e revistas por ser a primeira mulher a exibir a gravidez.

Miriam Goldemberg - Antrópologa, autora de Toda mulher é meio Leila Diniz



Procurei onde foi publicada esta foto mas não encontrei. Achei interessante porém, colocá-la aqui por não ser a da praia, mais conhecida, e estar nua como vimos Demi Moore e todas as outras.


Com certeza haverá ainda muitos outros exemplos, mas são estes por hoje.

Aproveito para dizer que 2010 é o ano do Centenário de Pagú. Informação que não lembrava, só achei no fim da pesquisa para este post no site oficial e percebi que não encontrei nenhuma menção ao assunto em nenhum lugar de acesso ao grande público. Mas não pense que falo de discriminação contra o povão, pois mesmo na revista Tempo da Sky, voltada "principalmente para os clientes Sky com ticket médio alto, pertencentes às classes A e B.", segundo o Portal Imprensa, embora diga que ela nasceu em 1910 o texto é construído sem ressaltar o dado importante do centenário.

Infelizmente, apesar da minissérie global Um Só Coração e do filme de Norma Bengell, as referências ainda são poucas, talvez para que se esqueça que o mundo não foi sempre assim e muita gente lutou para que as coisas mudassem ou porque isto são coisas do fundo do baú e já não lembramos mais nem da última pessoa que beijamos.

E o que tem a Rita Lee haver com isso???



Rita é compositora de duas músicas muito conhecidas do grande público que fazem referências diretas respectivamente a Pagu e a Leila Diniz. Enfim, olhar o passado pode possibilitar muitas novidades. Nem que seja para sentir o prazer de sentir gratidão pela vanguarda do outro.


Já vi muita gente cantando essa música, regravada depois por Maria Rita, sem a menor noção de quem é a tal da Pagu que dá título a canção.



"Toda mulher é meio Leila Diniz", além de refrão parece ser o único trecho lembrado dessa música, não? duvido que muitos saibam cantá-la por inteiro. Confundindo os que não sabem que ela se chama "Todas as mulheres do mundo", em referência ao filme homônimo em que Leila Diniz protagonizou dirigida pelo marido na época, Domingos de Oliveira.


Mais do que você viu por aqui ou coisas relacionadas:

Site oficial sobre Pagú

O resgate de Pagu

MIREM-SE NO EXEMPLO DAQUELAS MULHERES

Metáfora de Liberdade: Leila Diniz

Toda mulher é meio Leila Diniz: entrevista com Mirian Goldenberg

In memorian: Leila Diniz

Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco

Clarice Lispector: "certas presenças permitem a transfiguração"

Exposição Albert Einstein: O Personagem do Século

domingo, 9 de maio de 2010

Mãe varia com o tempo e o espaço



"Mãe é tudo igual."
"Só quem é mãe pode sentir."
"Ser mãe é a melhor coisa na vida."
Será?


Em um trabalho de comunicação interna de uma empresa de construção civil e arquitetura, são realizadas entrevistas com três funcionárias para uma campanha desenvolvivida pelo setor de marketing para o dia das mães. A primeira está acima de 50 anos e tem nível superior, as outras duas estão na faixa de 30 a 35 anos e possuem nível médio de escolaridade. As respostas no entanto parecem uniformes, apesar de as mulheres aparentarem grande sinceridade ao expor suas dúvidas e medos.

Algumas confessaram a culpa de sair de casa e deixar seus filhos para trabalhar.
Sentem-se mal e embora repitam outra ideia muito popular: "não me arrependo de nada", não demonstram convicção. Já que sabem não satisfazer plenamente o "papel de mãe" previsto em nossa cartilha imaginária.

Em resumo, as declarações refletem o que chamamos de senso comum, e como você deve ter precebido não são privilégios de uma amostragem pequena e isolada.


Xuxa realizou o "papel de mãe" para a geração 80 que cresceu em frente à tv, funcionando como uma "babá perfeita" para muitos pais parece que Freud explica. E se tornou representante de um modelo de maternidade para as "baixinhas" que se tornaram mães no início do novo milênio (Sasha nasceu em 1998). Hoje, assistimos na televisão o que Xuxa preconizava: uma mãe alegre, jovem, com cara de irmã mais velha que veste as roupas que a filha quer usar, ou compra as mesmas, e pode ser chamada de gostosa pelos colegas da escola do filho, agindo por vezes, de modo um tanto infantil, mesmo na visão dos filhos.


É no entanto, ao olhar ingênuo da jornalista que apurou os dados e redigiu o texto para o informativo interno da empresa, que me indigno. Pois, a esta, além de mulher, recai a responsabilidade de estar no grupo de formadores de opinião. Porém, quantas pessoas tem acesso a um questionamento consistente ao mito do amor eterno? Infelizmente mesmo entre "intelectuais", vemos a crença reproduzida.

Mas não podemons nos dar ao luxo de apenas uma versão, de manter um olhar que não se desafia a enxergar nada além do senso comum e que compactuará em consequência com os mecanismos de poder, reforçando ainda mais um mito que mal-trata a mulher que precisa assumir vários papéis sem deixar de ser mulher para o marido, para as amigas e inimigas, e profissional em seu trabalho, sempre com perfeição, principalmente no papel de mãe.


Alguns atribuem a foto de Demi Moore, clicada por Annie Leibovitz em 1991, como a primeira vez em que se deu destaque a imagem da mulher grávida, estando associada a um padrão de beleza. Há não muito tempo antes, a gestação era considerada um momento comparado ao estar doente, era recomendável a mulher não sair de casa, aparecer nua então... De lá pra cá, são muitos os exemplos na mídia de mães enquanto gestantes.


Origens



O Dia das Mães é notoriamente a época que gera mais lucro no comércio brasileiro, antecedida somente pelas festividades do Natal. É também talvez quando o discurso "ser mãe é natural" é revigorado, reforçado, algumas vezes atualizado. A celebração remonta a Antiga Grécia, em honra a deusa Réia, mas a data foi proposta por Anna Jarvis ao governador William E. Glasscock de Virgínia Ocidental, Estados Unidos, comemorada pela primeira vez em 1910.

Movida pela dor da perda de sua mãe, Jarvis que havia lutado por três anos para a instituição de um dia em homenagem as mães, decepcionou-se e chegou a declarar em 1923 a um repórter: “não criei o Dia das Mães para ter lucro”. Logo depois entrou com um processo para cancelar o Dia das Mães, o que sabemos não teve êxito. A ideia já havia se tornado lucrativa para algumas pessoas.

Desde 1918, o Dia das Mães é comemorado no Brasil igualmente no segundo domingo de maio. Passando em 1947, a fazer parte também do calendário oficial da Igreja Católica no país, por determinação de Dom Jaime de Barros Câmara, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro.



Quanto ao mito do amor materno, como o conhecemos, afirmam ter sido uma invenção só surgida no século XIX. Em Um amor conquistado - o mito do amor materno de Elizabeth Badinter, publicado em 1980, a história da maternidade é analisada com profundidade, trazendo fatos que sustentam a afirmação observada no título do livro: o amor materno é um mito, pois varia de acordo com o tempo e o espaço, tratando-se de algo cultural e não natural.

Alguns talvez lamentem e praguejem diante de algo contrário ao que estamos acostumados a ver e a ler nos noticiários, novelas, filmes, romances e anúncios de publicidade. É verdade que a mídia quase inteira divulga, reforça e mostra "provas" de que há um sentido que nasce com a mulher e que a fará ser a melhor mãe do mundo. No sábado, 08/05/10, assisti pela primeira vez na tv, a menção ao trabalho de Badinter. Obviamente isto pode ter sido dito antes, mas repito, quantas pessoas têm acesso a essa informação? Se nem jornalistas..?

Experimente buscar, por exemplo por instinto materno e veja o que aparece. Note que o programa Saia Justa faz parte do acervo da Globo Vídeos mas ele nem constará na lista, apesar da palavra-chave estar ligada ao resumo apresentado no site sobre o episódio citado. Se buscar mito do amor materno, veja o que aparece.

Já ouvi muitos até questionarem de forma lógica por que algumas mulheres não se encaixam nos padrões de comportamento esperados em nossa sociedade. Os questionadores, no entanto, não podem sair do lugar comum das digressões ou conversas de botequins. Experimente você sair por aí falando sobre "mito do amor materno" e espere as pedras ou rápidas mudanças de assunto.

Mas revisemos agora as mensagens encontradas nas falas das mães entrevistadas.


Mãe é tudo igual



Não importa o quão seja única e intrasferível a personalidade, a mulher enquanto mãe tem um padrão a seguir, uma expectativa que lhe foi introjetada desde os primeiros contatos com sua cultura e que será cobrada durante toda a vida e por todos os lados (em maior ou menor grau). No texto original da jornalista chegamos a ler: "As dúvidas e os medos são os mesmos em relação aos filhos". É claro que existem semelhanças entre as pessoas, mas por que as dúvidas seriam iguais? E aquilo que me dá medo é bem possível que você não lhe cause nenhum espanto. Algumas mães, por exemplo, morrem de medo que seus filhos deixem se seguir a sua religião, podendo até rejeitá-los caso isso ocorra não pense somente naquela senhora que usa o cabelo no pé e suvaco cabeludo, isto não é privilégios de evangélicos, a intolerância religiosa pode ser encontrada em todos, até entre ateus, enquanto outras não se preocupam sequer em lhes dar educação religiosa. Quem é para você a mãe desnaturada?


Só quem é mãe pode sentir



Essa seria uma frase repetida pelas três entrevistadas. Embutido nesta "pérola", encontramos outras como "mãe tem sexto sentido de mãe", e se substituirmos mãe por mulher podemos concluir que só quem é mulher pode ser mãe. Busque no Google por "sexto sentido de mãe" e encontrará em 144.000 resultados em 0,23 segundos de material que reforça a veracidade da afirmação. Infelizmente até um texto atribuído a Fernando Sabino aparece na lista, carregando, devido a autoria, um valor superior como informação-verdade já que são as falas de um representante da classe "culta" por que a Dona Sebastiana, aquela babá anafalbeta que criou os filhos da socialite não tem cultura, então não é culta, pois não?.

"As mulheres são mães! E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?" - Fernando Sabino

Polêmicas à parte, levando em consideração a afirmativa de que só a mulher tem o privilégio de ser mãe e considerando as entrelinhas das palavras de jornalista e escrito, em que ser mãe é igual a gerar e parir uma criança e todas as outras coisas depois, chegamos num impasse que serve inclusive de argumento para os que se opõem a criação de crianças por casais homossexuais; mesmo os compostos por duas mulheres, afinal "mãe só tem uma" e a criança, tadinha ficará perdida sem saber quem é a "mãe de verdade".


Anônimo. Mucama com criança ao colo. Óleo sobre tela. Figuração rara de uma ama de leite, atribuída por alguns autores a Debret como representação de Dom Pedro de Alcântara com um ano e meio de idade no colo de sua ama.


“Mãe tem uma só”, conhecida frase que rodou nosso continente em boca dos higienistas na segunda metade do séc. XIX, segundo Rita Laura Segato, professora do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), é relacionada as intenções de preservação dos brancos da contaminação e da corrupção moral que a presença de negros na intimidade da casa senhorial estaria a introduzir. Daí que as amas de leite passaram a ser condenadas até que o ato de amamentar foi transferido ao seio materno branco e limpo, o seio recomendado, agora, da mãe - senhora.


Ser mãe é a melhor coisa na vida



Notou que a afirmação acima é completável na cabeça, tornando-se facilmente "ser mãe é a melhor coisa na vida de uma mulher"?

Mas qual é a maior realização na vida de uma mulher? Siceramente, não sei. É provável que dependa da cultura, dependa de como a pessoa se insere ou se opõe a ela... Mas o que dizem é que ser mãe é o que realmente traz sentido a vida da mulher, de toda mulher. E se não traz, voltamos a sentença: "é uma desnaturada".


O mérito de ser mãe



Segundo as psicólogas Tania Novinsky Haberkorn e Sheila Skitnevsky Finger, que criaram o Instituto Mãe Pessoa para apoiar as mulheres no cumprimento e satisfação de seus papéis (em síntese: profissional, mãe e mulher), “ é necessário abandonar mitos e crenças, delegar funções, listar prioridades e viver com menos culpas”, e afirmam: “não existe manual para ser boa mãe”.

É de se esperar, no entanto, afinal viva as diferenças!, que algumas pessoas se encaixem muito bem no papel a que foram conferidas, de acordo com sua época, lugar, além de onde se situam nas estruturas sociais. Por isso, haverá sempre mulheres, que se sentirão tão realizadas e identificadas diante do "manual da boa mãe" que recebem, que será muito fácil acreditar tratar-se de algo para o qual nasceram para ser. O problema é quando também aceitamos que ser ser diferente não é normal. Podemos apontar duas consequências disso:

- Os que não se encaixam nos padrões predominantes deverão sofrer de depressão, pois internamente devem se cobrar por não correponder as cobranças da "natureza", uma esperada auto-punição, afinal o amor materno é natural e se no caso que tratamos a mulher não se encaixar no que acreditamos ser "amor de mãe" ela é uma...nem precisava dizer desnaturada.

- Seguindo a lógica maniqueísta, em que se sou bom e você ruim devo destruí-lo, ou seja, se ser bom é ser como eu e você é diferente de mim, logo... toda mulher que não deseja ser mãe ou não se sente plenamente realizada com o trio gestação, parto, amamentação deve ser jogada na fogueira, nem que seja dos comentários maldosos das amigas e parentes decepcionados com a DESNATURADA.

Os filhos, logo também a incluem na lista por não satisfazer seus critérios de mãe. Há os que acham que ela deveria comprar um carro e pagar todas as suas dívidas, outros que ela deveria saber tudo sobre moda, e os mais clássicos que a desejam ver como uma boa cozinheira-lavadeira-passadeira que deve receber todas as suas reclamações diante do bife que queimou, como uma operadora do setor de atendimento. Estarei agendando uma visita técnica para averiguar sua reclamação, Senhor.



O papel de ser mãe, no entanto, não necessariamente está restrito àquela que tem o bebê a crescer em seu corpo, dá a luz e o amamenta. Isto tornaria inaceitável desde as amas-de-leite, por quem muitos foram alimentados até pouco tempo atrás, as babás, as creches e inclusive a adoção. Tampouco está restrito ao sexo feminino, vide os homens que recebem o título de pãe, numa tentativa de dar-lhes o mérito sem entregar o direito de protagonista da história.

Voltando para Badinter, além da quebra de um paradigma, ou uma ideia que temos como única e verdadeira já que sempre aprendemos assim, podemos tirar dos estudos da filósofa francesa que o “amor de mãe”, senão é inato, é ainda mais belo. Pois demonstra a disposição de amar alguém a quem em geral não se conhece. Ser mãe envolve não só proteger, alimentar, cuidar do outro, mas também, inseri-lo na cultura e ensinar-lhe a ser humano, a pensar, a sentir e a amar, mas não por imposição da natureza e sim por amor.


A cantora e dançarina Josephine Baker, grande sucesso que marcou a primeira metade do século XX, é também tida como um exemplo de mãe. Todos os seus doze filhos foram adotados sim a Angelina Jolie não é pioneira nisso e são de etnias diferentes. Mas por que de tudo quanto é cor? Sim a Benneton também não foi a primeira A musa de Georges Simenon, Pablo Picasso, Alexander Calder, E. E. Cummings, além de uma sexy celebridade internacional, era engajada, lutou contra o nazismo e o racismo. E não se ateve em por em risco até a vida luxuosa que havia conquistado em nome da boa criação dos filhos.


O papel de mãe, contudo, não cabe necessariamente a apenas uma pessoa e nem sempre foi cobrado da mãe biológica. Levar a frente o mito do amor materno como algo natural é sustentar uma série de medos, frustrações e até preconceitos.

Há mães que são mães de seus filhos, mulheres que são mães de seus maridos, de seu pai, de sua mãe, de seus avós, dos amigos, dos patrõezinhos, dos filhos da vizinha, de quaisquer crianças, com todas as variações que isso pode representar. E embora mais raros, há também homens que amam com amor de mãe, afinal, essa é uma forma de amar.

Assim, concluo que devemos dar o mérito a todos aqueles que traduzem em suas vidas e sentimentos a dor e a delícia de "ser mãe".

Outras fontes sobre o mito do amor materno e o papel da mãe:

E-BOOK - Um amor conquistado: O mito do amor materno

Ainda a maternidade, segundo a Badinter

O MITO DO AMOR MATERNO

Deuses gregos comemoravam a maternidade

O ÉDIPO BRASILEIRO: A DUPLA NEGAÇÃO DE GÊNERO E RAÇA

Josephine Baker e sua Tribo do Arco Íris


Agradecimentos especiais à Professora de Antropologia Valderez Guimarães.

domingo, 2 de maio de 2010

Maior influência de Lady Gaga



No Brasil, muito se falou e quanto mais falada a notícia melhor pra gente, se é que você me entende... da lista das pessoas mais influentes do mundo pela Time, onde já estiveram presentes Hitler e Stalin e onde agora tivemos Lady Gaga e Lula. No que isso tudo vai dar (ou deu)? Veremos. Mas não me julgue antes mesmo de eu acabar.
Leia a postagem prometida, clicando aqui.

P.S.


P.P.S. Se você só queria mesmo saber quem é a pessoa mais influente na vida de Lady Gaga, assista ao vídeo que aparece no topo deste post e saiba por ela mesma.
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