domingo, 16 de maio de 2010

Rita Lee disse também



Não temos como viver como Adão e Eva e nem precisamos. Precisamos mesmo é agradecer todos os dias pelas pessoas que pensaram, disseram e fizeram as coisas que teríamos de pensar, dizer, fazer. É o que li recentemente quanto a uma das conclusões as quais chegou o cientista Albert Einstein. Sem a contribuição dos estudiosos de antes, talvez não houvesse hoje a Teoria da Relatividade.

Há que se considerar ainda a Teoria dos Campos Mórficos, da qual já citei aqui no blog, e que afirma haver algo muito mais poderoso na transmissão de conhecimento do que as formas de registro e meios de comunicação que conhecemos. Em termos simples, é mais fácil, por exemplo, resolver na segunda-feira as palavras cruzadas publicadas no domingo. Porque? Outros já chegaram as respostas e você poderá chegar a elas através de uma espécie de sintonia, sem fios, sem ondas.

A primeira vez que tomei conhecimento sobre essa teoria, proposta pelo biólogo inglês Rupert Sheldrake, foi no blog da Psicopedagoga Sandra Prado, a quem aproveito para expressar minha gratidão. Mas, pelo título deste post, você deve estar se perguntando cadê a Rita Lee. Confesso, na verdade, que só no momento em que a página de nova postagem abria que percebi a relação dela com o que eu que me moveu a abrir a página do Blogger.

Acontece que li, nesta semana o texto Sem medo de ser feliz na revista Tempo, edição nº003, que tem como capa basicamente o perfil de Lars Grael e o texto "Coragem! Você está só" ousado por sinal, afinal a maioria da revistas nos presenteiam com capas lotadas de títulos de matérias na tentativa de nos agarrar nem que seja por uma notinha com conteúdo facilmente encontrável na internet. Carla Rodrigues traz-nos uma pequena, porém forte lista de mulheres admiráveis, entre elas estão Patrícia Galvão, Alice Walker, Frida Kahlo, Georgia O'Keefe e Wangari Mathai.

Infelizmente, sobre a última, pacifista, ecologista e prêmio Nobel da Paz, há um erro na edição que acaba confundindo quem não estiver atento, ou não tiver já lido a parte dedicada a artista plástica Georgia O´Keefe. Imagino o editor desesperado depois da publicação onde lemos "Ela nasceu em novembro de 1887 numa fazenda no estado em 1940, mais de um século depois de as mulheres europeias terem conquistado o direito de estudar. Para as mulheres do Quênia (...)" aviso que o correto é "Ela nasceu em 1940" e daí por diante.

Mas tentemos deixar a prolixidade de lado e vamos ao que interessa. Se nos blogs a temporalidade é questionável já que você pode reeditar infinitas vezes o que publicou, a objetividade pode ser desafiada, como na literatura. José Saramago é um grandes exemplos de prolixidade. Outro que destaco é A hora da estrela, um dos meus livros prediletos, escrito por Clarice Lispector que declarou em 1977 o orgulho em ser amadora, "Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então com outro, em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter a minha liberdade". Se você leu até aqui, talvez me entenda ou decida de vez parar até



Li a autobiografia de Patrícia Galvão Paixão Pagú há uns quatro anos. Quando tentei comprar o livro, ele já havia sumido e até hoje não o possuo para uma consulta mais profunda. Então, usarei como referência o que foi publicado na revista e que me fez perceber, mais uma vez, que sempre temos algo a aprender, "só sei que nada sei", lembra? mas também sempre temos algo a lembrar.

Ao escrever o último post sobre o mito do amor materno, reconheço que faltei com a memória e não citei Pagú. Pois dentre tantas reflexões polêmicas sobre sua vida - incluindo o desencanto com o Partido Comunista - escritas quando ela ainda tinha por volta de 30 anos, encontramos o questionamento a experiência com a maternidade, "que para ela não foi exatamente marcada pela realização plena e feliz".

Pagú, lembro, no entanto é reconhecida com bastante orgulho na introdução do livro pelo filho caçula, Geraldo Galvão Ferraz, que buscou compartilhar as memórias da mãe, publicadas em 2005 pela Editora Agir.

De certa forma, mesmo num relato que pare ela funcionou como um depoimento diante de anos de tortura e espancamento por questões políticas, Pagú se faz admirável também por expor questionamentos sobre o mito do amor materno, quarenta anos antes do estudos da filósofa francesa Elizabeth Badinter que conclui que o "amor de mãe" não é algo natural (para saber mais clique aqui).


Outra figura que merece ser lembrada é Leila Diniz. Se Demi Moore foi a primeira a aparecer bela e sexy e grávida na capa de uma revista, a atriz brasileira, ainda em 1971, vinte anos antes da estadunidense, abalou a sociedade carioca com o misto "cheia de graça" associação feita a mulher durante a gestação, seguindo a simbologia associada a Maria mãe de Jesus porém "sensual", ao aparecer na praia vestindo biquini aos 8 meses de gestação, em plena ditadura militar.

Sendo uma atriz famosa e uma personalidade pública bastante polêmica, pode-se pensar que a elaboração que Leila fez de sua própria vida atingiu não apenas as pessoas mais próximas, mas também contribuiu para legitimar idéias e práticas consideradas revolucionárias para a época em que viveu. Ao escolher ter um filho fora do casamento, rompeu com o estigma da mãe solteira. Sua fotografia grávida, de biquíni, foi estampada em inúmeros jornais e revistas por ser a primeira mulher a exibir a gravidez.

Miriam Goldemberg - Antrópologa, autora de Toda mulher é meio Leila Diniz



Procurei onde foi publicada esta foto mas não encontrei. Achei interessante porém, colocá-la aqui por não ser a da praia, mais conhecida, e estar nua como vimos Demi Moore e todas as outras.


Com certeza haverá ainda muitos outros exemplos, mas são estes por hoje.

Aproveito para dizer que 2010 é o ano do Centenário de Pagú. Informação que não lembrava, só achei no fim da pesquisa para este post no site oficial e percebi que não encontrei nenhuma menção ao assunto em nenhum lugar de acesso ao grande público. Mas não pense que falo de discriminação contra o povão, pois mesmo na revista Tempo da Sky, voltada "principalmente para os clientes Sky com ticket médio alto, pertencentes às classes A e B.", segundo o Portal Imprensa, embora diga que ela nasceu em 1910 o texto é construído sem ressaltar o dado importante do centenário.

Infelizmente, apesar da minissérie global Um Só Coração e do filme de Norma Bengell, as referências ainda são poucas, talvez para que se esqueça que o mundo não foi sempre assim e muita gente lutou para que as coisas mudassem ou porque isto são coisas do fundo do baú e já não lembramos mais nem da última pessoa que beijamos.

E o que tem a Rita Lee haver com isso???



Rita é compositora de duas músicas muito conhecidas do grande público que fazem referências diretas respectivamente a Pagu e a Leila Diniz. Enfim, olhar o passado pode possibilitar muitas novidades. Nem que seja para sentir o prazer de sentir gratidão pela vanguarda do outro.


Já vi muita gente cantando essa música, regravada depois por Maria Rita, sem a menor noção de quem é a tal da Pagu que dá título a canção.



"Toda mulher é meio Leila Diniz", além de refrão parece ser o único trecho lembrado dessa música, não? duvido que muitos saibam cantá-la por inteiro. Confundindo os que não sabem que ela se chama "Todas as mulheres do mundo", em referência ao filme homônimo em que Leila Diniz protagonizou dirigida pelo marido na época, Domingos de Oliveira.


Mais do que você viu por aqui ou coisas relacionadas:

Site oficial sobre Pagú

O resgate de Pagu

MIREM-SE NO EXEMPLO DAQUELAS MULHERES

Metáfora de Liberdade: Leila Diniz

Toda mulher é meio Leila Diniz: entrevista com Mirian Goldenberg

In memorian: Leila Diniz

Ressonância mórfica: a teoria do centésimo macaco

Clarice Lispector: "certas presenças permitem a transfiguração"

Exposição Albert Einstein: O Personagem do Século

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