sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Vila + Schopenhauer + Nietzsche - Parte I



Este estudo visa analisar a obra fílmica “A Vila”, escrita, produzida e dirigida por M. Night Shyamalan ATENÇÃO para a tecla SAP: spoilers is coming. Enquanto obra de arte, é possível encontrar nela uma série de signos de interpretação variada. Será feita uma breve descrição das cenas, com foco em objetos e diálogos que nos pareceram ter objetivos maiores de significação no entendimento das mensagens do filme. É de influência direta para a interpretação adotada aqui, o pensamento de Schopenhauer e Nietzsche a partir do livro “O pessimismo e suas vontades” de José Thomaz Brum.

Na primeira cena, quando são ainda apresentados os créditos do filme, vemos um fundo cinza, escuro, árvores desnudas de folhas, com galhos que parecem garras, imagem que irá se repetir por diversas vezes. A música é tensa. Em contraste, na próxima cena é dia, tudo é claro, a música não toca, ouvimos apenas o som da natureza num espaço aberto, cheio de árvores verdes. Estamos no entanto em um cemitério, onde ocorre um enterro. Ao aproximar-se a câmera, percebemos que o defunto é uma criança ainda pequena. Em seu epitáfio o ano registrado é 1897. Um homem, ao qual identificamos durante o curso do filme ser o pai, agachado junto ao caixão, chora muito. O sofrimento, muitas vezes ligado à escuridão é sentido, ainda que o sol, a luz, brilhe, e domine todo o cenário.

“Nós podemos nos perguntar em momentos como esses: Tomamos a decisão certa ao nos estabelecermos aqui?”. A pergunta feita por Nicholson permanece sem resposta, sendo contudo revista ao final do filme.

“Somos gratos pelo tempo que nos foi dado”, é a afirmação - repetida em outras reuniões - feita pelo Sr. Walker, o principal ancião da cidade. A comunidade está à mesa numa grande refeição que segue o enterro. Todos parecem tristes, inclusive as crianças. Este sentimento de solidariedade com o sofrimento do outro é considerado por Schopenhauer como a “única felicidade”. Ainda durante o almoço um som estranho é ouvido vindo da floresta. Noah Percy é o único que destoa do grupo, rindo muito alto diante do silêncio sepulcral dos outros.

Mas logo somos apresentados ao estilo de vida no vale. A vida segue e vemos crianças lavando louças e divertindo-se jogando água uma na outra. Ao fundo há um casal que passeia. Uma mulher pastoreia o rebanho de ovelhas. Homens e mulheres trabalham numa estufa, um homem se dirige a uma mulher. Donzelas divertem-se enquanto varrem a varanda da casa, rodopiando com suas vassouras – a visão da rotina, a continuidade da Natureza. Ou conforme José Thomaz Brum, parafraseando Schopenhauer: “Os indivíduos, ‘fenômenos passageiros’, nascem e morrem. Mas a natureza, que se interessa apenas pela conservação da espécie, é ‘indiferente’ a esse processo.”
Ainda na cena das moças na varanda, uma delas avista algo que consideram fora de seu lugar. É uma planta de frutos vermelhos. Elas a arrancam e com pressa a enterram. Missão cumprida, elas retornam ao trabalho, agora mais quietas.

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