sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Quem tem medo dos signos?

As eleições passaram. O Brasil elegeu a primeira mulher presidente, diplomada na presente data pelo Tribunal Superior Eleitoral. A novela Vale Tudo é reprisada no Viva, um dos 28 canais da Globosat. Aquilo é a história, meu filho! E a namoradinha do Brasil estava lá não pesquisamos se botox existia naquela época, mas a tia Jocelyn pode contar pra gente.


Vídeo raro, gravado quase 3 anos antes da estreia de Vale Tudo


Uma possível versão, segundo uma vertente da Teoria da Conspiração, é que a nossa heroína estaria desde lá tentando proteger o Brasil do que ela sabia que aconteceria cerca de 21 anos depois: a chegada de Odete Roitman à presidência da República, o que é claro culminaria no fim do mundo para umas pessoas que você deve saber quem.

A trama seria inspirada no filme Os Doze Macacos. O público acompanharia atento e aflito o desenrolar do enredo, cheio de enigmas e reviravoltas incluindo a clássica técnica da virada de pescoço de Regina Duarte.



A saga de Raquel Acioly contra as ideias de mundo de Odete Roitman se confunde com a campanha de Regina Duarte contra os petistas no poder. E, julgando pelas aparências e a fama de Dilma Rousseff de mulher durona, chegamos a uma interessante versão. Fictícia é claro, e talvez até mais saborosa que a oficial.

Durante as eleições, havia notado a semelhança entre o visual da inesquecível personagem interpretada por Beatriz Segall e o da então candidata do PT, Dilma Rousseff. Hoje, buscando o nome das duas no Google vi que não estava sozinho. Detalhe para a fala de Odete Roitman no capítulo 34 de Vale Tudo:

"O Brasil está devendo 100 bilhões de dólares, pois pra mim isto é uma brincadeira. Porque este país tem condição de dever muito mais. O problema é a administração desta dívida que é mal feita. Era só deixar comigo que vocês iam ver só com o que ia acontecer com este país."

O responsável pela mudança no visual de Dilma foi Celso Kamura, famoso por seu trabalho com atrizes da Rede Globo emissora que surgiu em 1965, ligada à ditadura militar que havia surgido ainda no anterior. A divulgação do novo look teria ocorrido em 21/05/10 através do blog dele. Dois meses depois começaria a campanha para a presidência e após mais três meses Odete estava de volta com direito a aparição nas salas de cinema. O cabelereiro, no entanto, teria mostrado à Dilma fotos da estilista Carolina Herrera.



A Globo, além de um sério trabalho de denúncia, através da caracterização de Dilma em uma das maiores vilãs das telenovelas brasileiras - uma espécie de Espelho Mágico do Vídeo Show - teria feito uma campanha para orientar os cidadãos telespectadores do que fazer nas eleições. Assista ao vídeo com carinho:



Coincidências?

A novela Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères expunha as mazelas da sociedade brasileira do fim da década 80, pós ditadura militar. Concentrando-se com ênfase nas implicações morais e discussões éticas. Abordava questões sobre o poder - com marcante presença da mulher no liderança, tanto no mundo corporativo, Odete e depois também Raquel, como nas relações amorosas, entre Raquel e César, em que ela dava as cartas - a repressão sexual, a homossexualidade, entre outros. Para mim uma obra de arte pop.

E Dilma Rousseff? Sua campanha foi marcada por questionamentos morais, Serra a apontava como uma ameaça a moral e os bons costumes. Muitos afirmavam que ela era autoritária e temida pelos colegas - similar a Odete Roitman que deixa a todos morrendo de medo isso me lembra alguém só de pensarem que ela poderia voltar ao Brasil, desde a irmã, os filhos, passando pelos empregados e até deus, como é conhecido Marco Aurélio, vice-presidente da TCA, comandada pela socialite direto da Europa até que ocorre uma crise na empresa que a faz vir ao País e começar a mexer os pauzinhos de ouro alterando a vida de todos, sempre de acordo com suas ideias de sucesso e felicidade.

A história da presidente eleita é ainda marcada pela luta contra a ditadura militar e sinaliza, conforme ela mesma, a vitória dos que sobreviveram ao período. Lembremos que a ditadura terminou em 1984 e a novela estreou em 1988.

A verdadeira face de Dilma ainda será revelada, promete a oposição.

Introduzindo as viagens no tempo e relações bombásticas entre as personagens, afinal estamos falando de uma versão brasileira para Os Doze Macacos, aí segue um spoiler: Raquel é na verdade avó de Lula. Isto porque sua filha, Maria de Fátima - ou dona Lindu, de acordo com a história oficial - deu à luz ao menino que seria presidente do Brasil e faria a nazista Odete Roitman chegar ao poder.



Abaixo você poderá assistir ao clássico vídeo conhecido como "Eu tenho medo", realizado quando Raquel tentava nos prevenir o que aconteceria se seu neto fosse eleito em 2002.



Como nos avisaram os profetas: O Haiti já é, o Irã será.

A Vila + Schopenhauer + Nietzsche - Parte I



Este estudo visa analisar a obra fílmica “A Vila”, escrita, produzida e dirigida por M. Night Shyamalan ATENÇÃO para a tecla SAP: spoilers is coming. Enquanto obra de arte, é possível encontrar nela uma série de signos de interpretação variada. Será feita uma breve descrição das cenas, com foco em objetos e diálogos que nos pareceram ter objetivos maiores de significação no entendimento das mensagens do filme. É de influência direta para a interpretação adotada aqui, o pensamento de Schopenhauer e Nietzsche a partir do livro “O pessimismo e suas vontades” de José Thomaz Brum.

Na primeira cena, quando são ainda apresentados os créditos do filme, vemos um fundo cinza, escuro, árvores desnudas de folhas, com galhos que parecem garras, imagem que irá se repetir por diversas vezes. A música é tensa. Em contraste, na próxima cena é dia, tudo é claro, a música não toca, ouvimos apenas o som da natureza num espaço aberto, cheio de árvores verdes. Estamos no entanto em um cemitério, onde ocorre um enterro. Ao aproximar-se a câmera, percebemos que o defunto é uma criança ainda pequena. Em seu epitáfio o ano registrado é 1897. Um homem, ao qual identificamos durante o curso do filme ser o pai, agachado junto ao caixão, chora muito. O sofrimento, muitas vezes ligado à escuridão é sentido, ainda que o sol, a luz, brilhe, e domine todo o cenário.

“Nós podemos nos perguntar em momentos como esses: Tomamos a decisão certa ao nos estabelecermos aqui?”. A pergunta feita por Nicholson permanece sem resposta, sendo contudo revista ao final do filme.

“Somos gratos pelo tempo que nos foi dado”, é a afirmação - repetida em outras reuniões - feita pelo Sr. Walker, o principal ancião da cidade. A comunidade está à mesa numa grande refeição que segue o enterro. Todos parecem tristes, inclusive as crianças. Este sentimento de solidariedade com o sofrimento do outro é considerado por Schopenhauer como a “única felicidade”. Ainda durante o almoço um som estranho é ouvido vindo da floresta. Noah Percy é o único que destoa do grupo, rindo muito alto diante do silêncio sepulcral dos outros.

Mas logo somos apresentados ao estilo de vida no vale. A vida segue e vemos crianças lavando louças e divertindo-se jogando água uma na outra. Ao fundo há um casal que passeia. Uma mulher pastoreia o rebanho de ovelhas. Homens e mulheres trabalham numa estufa, um homem se dirige a uma mulher. Donzelas divertem-se enquanto varrem a varanda da casa, rodopiando com suas vassouras – a visão da rotina, a continuidade da Natureza. Ou conforme José Thomaz Brum, parafraseando Schopenhauer: “Os indivíduos, ‘fenômenos passageiros’, nascem e morrem. Mas a natureza, que se interessa apenas pela conservação da espécie, é ‘indiferente’ a esse processo.”
Ainda na cena das moças na varanda, uma delas avista algo que consideram fora de seu lugar. É uma planta de frutos vermelhos. Elas a arrancam e com pressa a enterram. Missão cumprida, elas retornam ao trabalho, agora mais quietas.
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